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domingo, 23 de novembro de 2014

RECEITA PARA A TRISTEZA

Estou triste,
O coração sofre,
Acordei com uma sensação de vazio.
Entro na cozinha.
Dentro do armário,
Encontro a alegria.
Farinha 100 gramas,
Outras 100 de açúcar.
Junto leite e ovos.
E num instante,
Tenho o bolo perfeito,
Para alimentar a felicidade e levar a tristeza.
Com uma chávena de chá
O meu bolo de afeição.
Já na noite de Natal,
Vejo com satisfação e júbilo
A felicidade espelhada no rosto de quem se delicia
Com o meu toucinho caído do céu.
Orgulho do meu pai, este meu doce conventual.
Na parede aquele quadro
A ponto de cruz bordado.
Na mesa a toalha que fiz numa juventude bem feliz
Tal como os naperons que dão brilho ao meu quarto.
Quanto estou triste
A doçaria faz maravilhas
O crochet ocupa os meus pensamentos
Com as suas linhas, trocas e laçadas
Que de tão complicadas
Levam a tristeza para bem longe
Trazendo-me a paz.

Celeste Santos Pinto

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

As Minhas Estações




Foi nos finais da primavera
Que te conheci.
Dia quente, soalheiro,
Adivinhando o verão que se aproximava,
Trazendo uma paixão que começava a despontar

Já o verão começava,
E nossas bocas se descobriram,
Para selarem o compromisso-

Passaram invernos, passaram primaveras, verões quentes, outonos infernais,
Mas foi na primavera que olhando nos teus olhos castanhos brilhantes
Te pedi que fosses meu.
Meu marido, meu esposo, meu companheiro, tudo o que tu foste.

Num dia de início de outono com calor, frio e chuva,
Mostrando-nos tudo o que tínhamos passado.
Mostrando-nos tudo o que iriamos passar,
Tornamo-nos esposos inocentes e felizes.
Riso nervoso olhando a chuva que caia abundantemente,
Lágrimas do céu, dizendo-nos que o inverno começava e jamais acabaria na nossa vida.
Mas não o entendemos,
Embevecidos olhando nos olhos o amor que transbordava.
Eu uma criança, tu um pequeno homem.
Ingénuos nós éramos.
Mas o verão veio e trouxe alegria à nossa vida (A nossa princesa)

E as estações passaram:
Primaveras tristes, invernos quentes, verões frescos, outonos zangados.

Novamente a alegria abundou num dia quente de primavera (A nossa caçula)
E as estações voltaram a passar,
Deixando-nos mais velhos, menos sábios, mais zangados. Menos alegres.
Primaveras furiosas com tempestades enormes.
Verões quentes com calor desesperante de um inverno que se aproximava e nenhum de nós queria ver.

Foi num dia de inverno, nevoeiro cerrado na cidade, que partiste.
Partiste, sem olhares para mim.
Teus olhos castanhos brilhantes choraram, mas quiseste partir.
Não me perguntaste o que eu queria.
O que queria o verão da tua vida.
A primavera da nossa vida não entendeu a tua partida.
E eu não soube explicar.
Era inverno. Sombrio, frio. O nevoeiro descia da Serra cercando a cidade.
Fiquei quieta, parada.
As estações passam por mim.
Tento vivê-las. Vivê-las intensamente.
Mas penso em ti.
Penso naqueles dias de primavera. Cheios de cor e alegria, contigo.
Dias de verão, olhando para ti e chorando.

E penso:
Conheci-te na minha primavera.
Casei contigo no meu verão.
Foste embora no primeiro dia do meu outono,
Deixando-me viver sozinha o meu inverno.

Preciso de ti no meu inverno.
Preciso de ti.




Celeste Santos Pinto

quinta-feira, 18 de setembro de 2014


Avó

De um dia para o outro deixaste de ser quem eras.
De um dia para o outro deixaste de me conhecer.
Deixaste de brincar comigo.
Deixaste de cantar para os teus bisnetos,
As canções da tua mocidade.
Já lá vão 3 meses.
E cada dia que passa vais indo embora,
um bocadinho de cada vez, mas estás a ir embora.
Rezo. Peço.
Mas Deus diz-me que só Ele sabe qual a tua hora
Foste uma MULHER, viveste a tua vida em pleno
cheia de alegrias, com algumas tristezas
que nunca te deitaram abaixo.
Viveste intensamente a vida,
mesmo quando não estavas bem.
Herdei de ti o ser "senhora do meu nariz"
Herdei de ti, que não precisamos de ninguém
para criarmos a nossa familia.
Que mesmo sozinhas conseguimos
educar os nossos rebentos.
E tu adoravas a tua bisneta caçula
A tua Maria Isabel
A única que não esquecestes nestes 3 meses.
Avó queria que tivesses partido silenciosamente
Sem sofreres,
Sem fazeres sofrer,
Mas não.
Não sei se sofres
Não sei qual a tua hora.
Mas sei que mereces partir com dignidade
Sei que mereces descansar depois de tanto anos de luta.
Não sei quando vais partir.
Mas sei que as saudades virão
Pois já as sinto.
Foste a única Avó que conheci.
Foste a única Avó que Amei.
Avó adoro-te


Portalegre, 27 de Julho de 2014
Celeste Santos Pinto

MEDOS

Sobe a lua.
Desce o sol.
O calor abrasador sente-se na calçada.
Que se estende diante dos meus olhos.
Debaixo dos meus pés.
Que percorro cansada,
Com as forças consumidas pelo sol,
E do qual não consigo fugir.
Ele esconde-se, foge.
Tal como é:
Rei e Senhor do Universo
Aquele que tudo pode.
Vai invadir outras terras, outras forças
Mas eu…
Corro ao seu encontro.
Corro atrás do Rei.
Tal como uma escrava agrilhoada ao ferro,
Presa ao seu Senhor e Dono.
As forças fogem,
Mas a minha vontade de ficar
É fugindo.
Não existe vontade.
Quero sentir o sol inquietante,
Envés da tranquilidade da lua.
Quero a guerra, fujo da paz.
Porque o medo do fracasso
É maior do que o desconhecido.
Caminho em direcção ao Inferno.
Fujo daqui para ali.
E sinto que Morri…
Sem nunca ter vivido…

Celeste Santos Pinto

13 de Agosto de 2014

segunda-feira, 24 de março de 2014

....
Saí à rua

Para encontrar a Primavera.

Vi o Céu, sem nuvens, azulado

Que Reflecte na terra os raios de sol

Propagando frescura e alegria.

As flores do jardim, ainda suportam o orvalho que caiu durante a noite

E se vai evaporando ao longo da manhã com o calor do sol.


Saí à rua

Para encontrar a Primavera.

Encontrei o meu Pai

Numa rua da cidade,

Alegre, contente. Rindo…

Riso simples e singelo

Que a todos conquista

Sorris para mim,

Apaixonado, orgulhoso,

Elegante, charmoso,

Cativante e feliz.

És tu a minha força.


Saí à Rua

Para encontrar a Primavera.

Encontrei uma Mulher,

Filha, Mãe, Avó.

Andar vagaroso, mostras o peso do mundo em teus ombros

Sorris, sorriso meigo.

O sofrimento fica lá no fundo, bem escondido, dentro do teu ser

Sorris sempre, mesmo que a vida não te sorria

Sofres como Mãe,

Sofres como Filha,

Sofres como Avó.

E como Mulher que és, já não sofres,

Porque essa, já se apagou há muito,

Num dia de verão, que se transformou em inverno logo pela manhã,

Na hora em que o teu companheiro partiu para outro destino.

Mas mesmo assim sorris,

Sorris sempre,

Sorris para mim.


Saí à Rua

Tentando encontrar a Primavera.

Mas encontrei a Poesia

Nos bancos do jardim,

Nas vozes das crianças,

Nas cartas dos enamorados,

Na frase pintada numa casa em ruínas.


Saí à rua,

E sem procurar muito

Encontrei a Primavera…



Portalegre, 14 de março de 2014

Celeste Santos Pinto






Para todos aqueles que já partiram e eu quero um dia voltar a encontrar. Sei que estão todos juntos. Rindo, alguns discutindo, outros fazendo partidas. Outros zangados. Mas estão todos juntos à nossa espera. Até um dia...
Para ti que parti
ste hoje, leva saudades nossas ao meu pai, ao meu avô e ao pai das minhas filhas.... Todos eles gostavam de ti e tu também gostavas deles... Até um dia. Até um dia.
 


"Porquê Morte?"...

Porque a vida não é nossa?
Porquê?
Porque temos que morrer algum dia?
Porquê?
Porque construimos sonhos, realidades
Para num dado momento desmoronar-se tudo?
Nascemos, crescemos e morremos.
Será só isto a vida?
Não, de certo que não é.
Eu acredito em Ti, Senhor.
E se És como dizem, então a morte
Não pode ser assim tão terrível.
A morte terá que ser algo de belo.
Separação da alma do corpo.
O corpo, aquilo que nada vale para Ti,
Fica, apodrecendo na terra.
A alma, sobe, sobe, para junto de Ti, Senhor.
A Morte para mim é isto.
Para mim que acredito em Ti, Senhor.
Agora a Morte não é mais uma visão terrível.
Mas sim uma etapa na nossa vida.
Claro na nossa vida.
Porque afinal nós continuamos a viver,
Longe da terra, mas junto de Ti.
E Eu quero viver, viver sempre

Celeste Santos Pinto
25 de Agosto de 2013

domingo, 26 de janeiro de 2014

 
Palavras. O que são palavras?
Os sentimentos
As agonias
O sofrimento
A alegria
Palavras...

Brandas
Rudes
Sinceras
Mentiras
Traições
Palavras. O que são Palavras?
Eu
Tu
Nós
Sós
Sentido sem sentir
Sofrer no sofrimento
Sozinha acompanhada
Eu, Tu ou Nós?
Palavras. Simples Palavras.
Simplesmente
Não saber sabendo
Olhando não vendo
As palavras.
Ditas em silêncio
São simplesmente
Tudo o que não sou
Mas quero
Tudo o que quero
Mas não tenho
Tudo o que me dás
Quando escravizas o meu coração
Que fica sangrando nas tuas mãos
Palavras
Sem fé acreditando
Na salvação
Palavras
Eu. Tu. Ou nós?
Só Palavras.

Portalegre, 23 de Janeiro de 2014
Celeste Santos Pinto