A cidade acordou com um nevoeiro cerrado, não
mostrando a cidade aos nossos olhos.
Não se vê nada à nossa frente.
Se estiver lá em cima no Miradouro, o nevoeiro
confunde-se com o mar. Mas é só nevoeiro.
É só um dia triste, feio.
Chove uma chuva miudinha que nos encharca até aos
ossos.
Lembro dias assim, junto á lareira com o lume no
chão acesso que nos aquece e protege do frio que está lá fora. Com a cana
empurro as brasas que se espalham.
Uma panela de barro cheia de água a ferver para
fazer o café de um lado. Do outro, em cima duma trempe outra panela de barro já
ferve com o feijão com couve para o nosso almoço.
Começaram a chegar os homens, andavam a tratar dos
animais, pois esses não querem saber se chove ou não.
Já com todos sentados à mesa, soltam-se gargalhadas,
a alegria espalha-se.
Depois do almoço, o meu pai não dispensa a sua
caneca de café feita na tal cafeiteira de barro, acompanhada com uma boa fatia
de pão e queijo. Fica feliz com este mimo que a minha mãe lhe prepara todos os
dias.
Quero sair, saltar, de pedra em pedra. Ir ao
ribeiro, tentar saltar para o outro lado.
Mas a chuva continua a cair, chegam as castanhas
para assar, os tortulhos que os homens apanharam durante a manhã. Aqueles
grandes cheios de “saias” vão directamente para as brasas para assarem.
Alguém grita:
- Há tortulhos de molho, todos para a mesa. Alguém
quer provar o vinho novo?
O vinho feito pelo meu avô, para ser provado com os
primeiros tortulhos da época.
O nevoeiro de hoje que escondeu a minha cidade
trouxe-me recordações, a minha infância.
Tempos lindos, que não voltam....
Celeste Santos Pinto