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quinta-feira, 18 de setembro de 2014


Avó

De um dia para o outro deixaste de ser quem eras.
De um dia para o outro deixaste de me conhecer.
Deixaste de brincar comigo.
Deixaste de cantar para os teus bisnetos,
As canções da tua mocidade.
Já lá vão 3 meses.
E cada dia que passa vais indo embora,
um bocadinho de cada vez, mas estás a ir embora.
Rezo. Peço.
Mas Deus diz-me que só Ele sabe qual a tua hora
Foste uma MULHER, viveste a tua vida em pleno
cheia de alegrias, com algumas tristezas
que nunca te deitaram abaixo.
Viveste intensamente a vida,
mesmo quando não estavas bem.
Herdei de ti o ser "senhora do meu nariz"
Herdei de ti, que não precisamos de ninguém
para criarmos a nossa familia.
Que mesmo sozinhas conseguimos
educar os nossos rebentos.
E tu adoravas a tua bisneta caçula
A tua Maria Isabel
A única que não esquecestes nestes 3 meses.
Avó queria que tivesses partido silenciosamente
Sem sofreres,
Sem fazeres sofrer,
Mas não.
Não sei se sofres
Não sei qual a tua hora.
Mas sei que mereces partir com dignidade
Sei que mereces descansar depois de tanto anos de luta.
Não sei quando vais partir.
Mas sei que as saudades virão
Pois já as sinto.
Foste a única Avó que conheci.
Foste a única Avó que Amei.
Avó adoro-te


Portalegre, 27 de Julho de 2014
Celeste Santos Pinto

MEDOS

Sobe a lua.
Desce o sol.
O calor abrasador sente-se na calçada.
Que se estende diante dos meus olhos.
Debaixo dos meus pés.
Que percorro cansada,
Com as forças consumidas pelo sol,
E do qual não consigo fugir.
Ele esconde-se, foge.
Tal como é:
Rei e Senhor do Universo
Aquele que tudo pode.
Vai invadir outras terras, outras forças
Mas eu…
Corro ao seu encontro.
Corro atrás do Rei.
Tal como uma escrava agrilhoada ao ferro,
Presa ao seu Senhor e Dono.
As forças fogem,
Mas a minha vontade de ficar
É fugindo.
Não existe vontade.
Quero sentir o sol inquietante,
Envés da tranquilidade da lua.
Quero a guerra, fujo da paz.
Porque o medo do fracasso
É maior do que o desconhecido.
Caminho em direcção ao Inferno.
Fujo daqui para ali.
E sinto que Morri…
Sem nunca ter vivido…

Celeste Santos Pinto

13 de Agosto de 2014