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terça-feira, 13 de março de 2012

A PRIMAVERA NO ALENTEJO

Água, caminhos, pomares, tanques, veredas, árvores, ribeiros, azinhagas.
Aqui uma casa caiada de branco, com uma barra amarela.
Um poial com craveiros, cheios de flores à janela
Que perfumam toda a rua e atrai o pardal que canta no beiral.
Uma casa acolá.
O lume crepita na lareira, já acesa desde manhã.
A água na caldeira a aquecer para o café
A sopa na panela a ferver, já exala um aroma…
A água fresca no cântaro acabada de encher, na bica do tanque.
Na bica do tanque a água jorra com uma força bruta,
Ela vem correndo pelas entranhas da terra, com tanta força desde a nascente
Que parece levar tudo na sua frente.
A água jorra da bica para o tanque grande
Onde as mulheres lavam a roupa.
Cheira a sabão, a roupa branca na relva a corar brilha ao sol.
As crianças correm, riem, felizes pela liberdade que têm
O cheiro a fruta já desperta a fome
Azinheiras, oliveiras, vinhas, laranjeiras, macieiras.
Como é bom acordar no campo em dia de primavera,
Abrir a janela de par em par
E sentir o cheiro
logo de manhãzinha que embriaga de tal maneira
que sinto a imensidão, a vastidão do Alentejo
Onde não se vê o fim nem o começo.
Em cima daquela pedra, tento ver o fim do horizonte,
ver onde acaba o meu Alentejo
Mas só consigo ver a primavera a despontar
Nas árvores, no verde, na água, no ar, nas flores dos craveiros, nos malmequeres do campo,
no chilrear dos pássaros, nos cheiros que se entranham em mim…
Respiro fundo como se quisesse guardá-los todos dentro de mim,
E deitada nessa pedra com o sol a bater na minha face, fecho os olhos
E sinto que sou tão pequenina, tão pequenina
Neste Alentejo onde não se vê fim nem começo.

Portalegre, 8 de Março de 2012

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